A importância da oração eucarística – Parte I

Demos graças a Deus

A instrução Eucharisticum mysterium (25/05/1967) sobre os “sinais com que a Eucaristia é celebrada como memorial do Senhor permanente” fala de “proclamar com voz inteligente a oração eucarística”. Podemos dizer que este é um ponto de não-retorno para continuarmos indo ao homem de hoje, de forma adequada, seguindo as primeiras gerações (GIRAUDO p. 502-503).

No caminho do Vaticano II somos convidados a redescobrir a dinâmica do relato institucional na reunião cultual. Redescobrir, sobretudo, o nexo entre ordem de iteração e reunião cultual como encontramos na anáfora da Tradição Apostólica e de Teodoro de Mopsuéstia (GIRAUDO, p. 505).

A anamnese da morte e ressurreição do Senhor indica a natureza do sacrifício eucarístico, a conversão que acontece, a ordem sacramental como o próprio cânon romano expressa. A “oração eucarística centro e cume de toda a celebração” (IGMR 30). O Catecismo da Igreja Católica afirma que com a oração eucarística “chegamos ao coração e ao ápice da celebração”, como encontramos nos prefácios, no sanctus, no relato institucional, na anamnese e nas intercessões (CIC 1352-1354).

Oração Eucarística: Dar graças… doar a vida… eis nossa vocação e nossa salvação!

Esta é a resposta que damos, em diálogo com quem preside, no início da Oração Eucarística. É o anúncio de tudo o que faremos a seguir, começando com o prefácio. Na fé do Ressuscitado, presente no meio de nós, com nosso coração orientado para o alto, damos graças ao Senhor, nosso Deus!

O convite é dirigido a cada pessoa presente para unir-se de coração à ação de graças que a comunidade, corpo do Senhor, animada pelo Espírito, vai fazer carinhosa e publicamente a Deus Pai, com Jesus.

É nossa vocação fundamental dar graças, reconhecendo que toda nossa vida é DOM, é GRAÇA, é presente gratuito de Deus, sempre fiel à aliança e, reconhecendo ao mesmo tempo, nossa constante infidelidade. É nossa salvação fazer desta vida uma doação generosa aos irmãos. Dar graças, entregando a vida com Cristo ao Pai. É o que realizamos na grande e solene prece de aliança que é a Oração Eucarística, enraizada nas bênçãos judaicas, particularmente nas bênçãos de alimentos.

Toda refeição judaica e, em particular a ceia pascal, começa sempre por uma ação de graças, uma bênção (bendição), seguida de súplica para que Deus continue sendo pródigo com seu povo. Dar graças e bendizer são dois verbos sinônimos que guardam o mesmo significado e indicam o que os judeus chamam (no hebraico) a berâkâh e que o Novo Testamento chama de Eucaristia – no grego, eucharistein (eu = bom, bem; charis = graça, dom, favor), quer dizer “quanto é belo, quanto é bom o presente que ofereces!”.

Em que consiste esta ação de graças que é toda a Oração Eucarística?

Consiste em juntos lembrar, agradecer, adorando ao Pai pelas maravilhas que fez por nós na pessoa de Jesus, seu Filho amado, principalmente pelo mistério de sua morte e ressurreição. Confiados nesta ação maravilhosa do Senhor, suplicamos que o Pai envie seu Espírito para transubstanciar o pão e o vinho no corpo sacramental de Jesus e transformar a nós, comungantes, no corpo eclesial do Ressuscitado.

Jesus, na última ceia, tomou em suas mãos o pão e o vinho e deu graças primeiro. Depois entregou-os para serem comidos e bebidos. Esta sequência nos apresenta um dado importante da espiritualidade judaica, calcada na Aliança, que foi assumida por Jesus e pelas comunidades cristãs. Bendizer e depois comer. Agradecemos e depois comungamos. O pão que comemos e o vinho que bebemos são o pão e o cálice da Bênção, da ação de graças. (cf. 1Cor 10,16-18).

Por ser pouco compreendida, a Oração Eucarística é feita, muitas vezes, com pressa, sem convicção e alegria, não suscita gratidão. Por isso, ainda é comum pessoas acharem que o momento mais apropriado de agradecer a Deus na Missa é só após a comunhão.

A Oração Eucarística mais que oração é uma grande AÇÃO litúrgica.

Ela tem uma estrutura com os seguintes elementos: o diálogo inicial entre quem preside e a assembleia: O Senhor esteja convosco…Corações ao alto… Demos graças ao Senhor nosso Deus. O prefácio, apresentando os motivos da ação de graças, terminando com o canto do “Santo”. A epíclese (invocação do Espírito Santo) sobre o pão e o vinho. Narrativa da instituição. Anamnese (memorial) e ablação (oferta) A epíclese sobre a comunidade. As intercessões, a Doxologia e o Amém final.

A Oração eucarística deve ser entendida e vivida espiritualmente como um todo. Seu núcleo central é a ação de graças dirigida em adoração ao Pai e não à presença real de Cristo na Eucaristia. O ponto alto, síntese desta ação de graças, é o momento da elevação do pão e do vinho, no final da oração eucarística, durante a Doxologia (palavra de louvor) final: Por Cristo, com Cristo, em Cristo, a vós, Deus Pai todo-poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda honra e toda glória, agora e para sempre. Amém!

A ação de graças, que é toda a Oração Eucarística, é proclamada pelo presidente da mesa, que fala em nome de todos. A assembleia participa atentamente e intervém com as aclamações: o “Santo”, o “ Eis o mistério da fé”, as outras aclamações e o Amém final, que merece ser feito ou cantado com exultação. Este Amém é o “sim “da aliança, a assinatura do povo sacerdotal à prece de louvor e à oferenda pascal que se conclui. Vale lembrar que temos no Brasil, quatorze textos diferentes de Orações Eucarísticas, disponíveis para a escolha das comunidades.

“É claro que só temos a ganhar com as orações eucarísticas e aclamações cantadas, em linguagem poética e musical própria da cultura da comunidade celebrante. Orações eucarísticas resmungadas ou recitadas às pressas jamais conseguirão expressar ou suscitar a nossa gratidão para com o Pai. Que sejam pelo menos proclamadas com convicção e alegria”. (Ione Buyst)

Continua…

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