Cada vez mais atualizados e modernos, os padres utilizam todos os meios de comunicação disponíveis para estarem mais próximos dos fiéis
No dia 4 de agosto comemora-se o Dia do Padre. Se, no passado, eles já foram distantes, rezando missas em latim e de costas para a assembleia, atualmente o perfil dos sacerdotes tem mudado. Sem perder o foco na evangelização através do anúncio da Palavra de Cristo, eles vêm encontrando outras formas de se aproximar dos fiéis. É a nova geração de padres que veem a tecnologia como uma aliada para a religião e trazem ares de contemporaneidade para a Igreja.
Antigamente, era comum famílias enviarem filhos ainda na infância para colégios internos que se dedicassem à formação de padres. Entretanto, desde 1983 a Igreja só aceita seminaristas com o ensino médio concluído. E, para serem ordenados, eles precisam ter no mínimo 25 anos. Essa mudança veio para permitir um amadurecimento maior ao sacerdote, conferindo-lhe mais sensibilidade para lidar com diferentes realidades e com temas desafiadores, como os que vêm sendo propostos pelo Papa Francisco nos últimos anos. Não apenas no que diz respeito à comunicação, mas também nas questões relativas à saúde, a nova geração tem quebrado paradigmas.
Quem o vê correndo no calçadão de Camburi ou andando de bicicleta com toda disposição não imagina que Renato Christe Covre, 37 anos, é o responsável pela tradicional Paróquia Nossa Senhora da Vitória, na Catedral Metropolitana da Vitória. Ele foi o primeiro pároco da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e conta que, quando foi ordenado, em abril de 2007, enfrentou muitas dificuldades até encontrar o seu estilo de evangelizar. “Uma coisa é o estudo e outra é a prática, lidar com pessoas e realidades muito diferentes. No início tinha vontade de implantar aquilo tudo que lia nos livros e que achava o ideal, mas depois fui percebendo que precisava ouvir muito, caminhar com o povo, até porque não existe um padre sem povo”, diz.

Essa vivência também lhe mostrou que era necessário desenvolver uma liderança criativa que oferecesse segurança às pessoas, mesmo que, para isso, precisasse correr riscos. “Isso me impulsiona a descobrir e viver experiências novas. Estou sempre aberto às novidades”, afirma acrescentando que sempre gostou da área de comunicação. “Se não fosse padre, teria cursado publicidade ou jornalismo”.
O interesse pelo segmento e a crescente demanda fizeram com que ele buscasse se aperfeiçoar. “Hoje temos um público muito exigente, então, não dá para querer se comunicar e evangelizar apenas com recursos tradicionais. Precisamos ter uma linguagem objetiva, clara e direta. Mas, sou um padre, não apresentador de TV. A partir do meu lugar, devo me questionar como posso me comunicar melhor, permitir que a palavra de Deus se torne mais conhecida, divulgada e amada”, pondera. Padre Renato lembra que a comunicação não se faz só verbalmente. “Falar demais nem sempre é se comunicar bem. Podemos nos comunicar de várias formas: a expressão corporal, o próprio silêncio, a postura, as colocações certas nas horas certas, do jeito certo e para as pessoas certas”.
Outro exemplo dessa nova geração é padre Gudialace Oliveira, de 31 anos. Ordenado em maio de 2013, ele é conhecido por ser muito comunicativo e pela facilidade com que se relaciona com os fiéis, especialmente os jovens. Convidado pelo arcebispo de Vitória, Dom Luiz Mancilha Vilela, para assumir a coordenação da Pastoral da Comunicação na Arquidiocese, ele logo se matriculou no curso superior de jornalismo. Atualmente, está concluindo a monografia.

Para ele, a necessidade de atuação em novos meios de comunicação, como as redes sociais, vem do fato de as pessoas viverem conectadas nos dias de hoje. “O povo ali está e precisamos que a voz da Igreja seja ouvida também por esse meio. Essa proximidade com os fiéis é fruto da nova eclesiologia que estamos vivendo. Sabemos que o padre precisa ser assim, as pessoas têm necessidade do contato”, explica. Contudo, destaca que a relação não pode ficar restrita ao mundo virtual: “parecemos estar perto e ao mesmo tempo longe. Falamos com todos, mas não temos condições de abraçá-los, já que, às vezes, temos 5 mil amigos no Facebook, mas não conseguimos apertar sua mão. Vale a pena valorizar os fiéis que estão perto, os quais podemos abraçar por estarem mais próximos fisicamente”.
Desde que foi transferido para o Convento da Penha, neste ano, Frei Paulo Roberto Pereira, 49 anos, tem implantado inúmeras inovações no templo católico mais popular do Espírito Santo. “Os dias atuais são maravilhosos, sob o ponto de vista da tecnologia. Podemos nos comunicar com agilidade, abrangência e criatividade antes inimagináveis. A Igreja, protagonista da comunicação em todos os momentos da história, não poderia ficar de fora ou temer o advento da comunicação digital e os desafios da evangelização do mundo virtual. Alegro-me com tantas iniciativas que nascem a partir desta percepção”, declara.

Frei Paulo esclarece existe uma compreensão equivocada que considera o “mundo virtual um universo inexistente”. Em sua opinião, esse conceito não se dá conta de que, de uma forma diferente e nova, a realidade virtual é espaço real. “Compramos, vendemos, estudamos e até rezamos pela internet. Por isso, será valioso o esforço para usar os instrumentos adequados ao anúncio do Evangelho a partir deste universo. A transmissão da missa do Convento pelo Facebook e o desenvolvimento do nosso aplicativo são iniciativas que caminham nessa direção”.
Pelo app, o devoto poderá manter-se informado das atividades, conhecer um pouco da história e até ajudar na manutenção do Convento. Também está em planejamento a produção de um pequeno programa de notícia, via Facebook, que servirá de interação com os fiéis. Além disso, momentos de oração, tais como o Angelus e a Consagração à Nossa Senhora estarão em breve no site do Convento.
“O evangelizador deve estar atento às possibilidades e limitações que envolvem sua atividade. Não evangeliza menos quem não tem os recursos da comunicação eletrônica. Importa estar atento, treinar a sensibilidade, exercitar a criatividade e lançar mão dos recursos e competências para que a missão seja fecunda. Mas, nada substituirá a reunião da família de Deus para ouvir a Palavra e repartir o pão. A transmissão da missa pelo rádio, TV ou Internet pode ser uma maneira de promover a comunhão, motivando o fiel a fazer a experiência da comunidade”, conclui.