Filho dos Sagrados Corações… Filho da Cruz

“QUANTO MAIS SE CONHECE A PESSOA DE JESUS, MAIS VAMOS NOS
IDENTIFICANDO COM O MESTRE, SEMPRE SE COLOCANDO COMO
CRISTO, NUMA DIMENSÃO DE OBEDIÊNCIA AO PAI”

O personagem dessa edição nasceu numa fazenda de nome engraçado“Cafundó” em Pouso Alto, sul de Minas Gerais. Num ambiente muito católico e profundamente religioso, desde criança, nas conversas em família seus irmãos manifestavam suas inclinações para medicina ou advocacia e ele já dizia que seria padre. Achava tudo muito bonito, todo o rito da Santa Missa e como sempre participava, gostava muito de ouvir a fala do padre local, diz esse mineiro que com o estímulo da família entrou para o seminário com 9 anos de idade.Alguns missionários visitaram sua cidade natal, e seu pai José Mancilha Vilela perguntou:
_ Luiz, quer ir com eles?
“Tudo bem, que seja.. eu quero mesmo é ser padre.”
Sem olhar para traz para não chorar, Luiz Mancilha Vilella, seguiu com outros meninos para Ferraz de Vasconcelos/SP. Dom Luiz diz que teve muitas oportunidades para discernir bem sua escolha, a começar pelos estudos que não foram em regime fechado. Estudou em escolas normais; fez o “colegial clássico – atual ensino médio” no Colégio Regina Pacis no Triângulo Mineiro, na época com 2 mil alunos e somente as disciplinas próprias da formação sacerdotal como por exemplo: Grego, Latim e Religião eram cursadas no seminário.

Avalia que teve oportunidade de trilhar outros caminhos, afinal foi um jovem normal, nas férias sempre visitava sua família, mas nada ofuscou sua escolha. Graduou-se em Filosofia e Teologia pela PUC-MG e fez segundo noviciado no Peru. Dessa experiência fora do país, lembra de uma terapia onde os noviços deviam escolher algo com o que se identificasse, ele escolheu o pássaro João de Barro, aquele “trabalhador e inteligente” que constrói uma casa, da qual cuida e zela. Sua ordenação sacerdotal aconteceu no dia 21 de dezembro de 1968 na capital mineira.

Ordenação Sacerdotal

Uma época segundo ele de muita crise. Muitos padres e professores o instigaram a desistir, mas firme, assumiu o risco e hoje faz parte de um seleto grupo, considerado pela Universidade de Chicago (USA) como um dos profissionais mais felizes do mundo. Com mais dois colegas, foi para o interior dedicar a vida aos mais necessitados, lembra que comiam de marmita e levavam uma vida muito simples, mas foi chamado para trabalhar como coordenador de Pastoral Vocacional na Província da Congregação dos Sagrados Corações (SSCC). Na periferia de Belo Horizonte, uma experiência que tocou profundamente seu coração foi o trabalho com as famílias, um movimento que na época era chamado Betânia – Encontro de Casais. Esse chamado o fazia muito feliz, mas como sempre buscou a obediência, mais uma vez foi retirado para assumir uma função na formação de sacerdotes. Recebeu então o convite e a honra de ser superior provincial (cargo máximo de
uma congregação religiosa) do Instituto Sagrados Corações, onde mais de cem padres estavam sob sua direção. Nessa época viajava muito, visitando as 40 casas de formação sacerdotal. Um chamado gratificante, mas também muito árido. Antes que completasse seu segundo mandato como superior provincial, foi indicado e eleito Bispo da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim/ES, e aos 43 anos veio para terras capixabas, nomeado pelo Papa que atualmente podemos chamar de São João Paulo II. Para satisfação de seu pai, que disse na época:
– Não basta a felicidade de ter um filho padre, agora tenho um filho Bispo!

 

Bispado

Nesses quase 30 anos de Episcopado, já ordenou muitos diáconos e mais de 50 sacerdotes, dentre estes dois Bispos, Dom Frei Mário Marquez e Dom
Rubens Sevilha. A maior parte de sua família reside atualmente em São Paulo e sempre que possível mantém contato, mas ressalta que foi preparado para a vida missionária desde muito cedo e ficar distante da família fazia parte desse projeto que nunca foi dele, sempre foi de Deus. Sua família de sangue está em seu coração, mas com o sacerdócio e Episcopado ganhou mais duas famílias; a família religiosa dos Sagrados Corações e a família diocesana. Dom Luiz disse que sua vida é uma vida de conhecimento da pessoa de Jesus Cristo, quanto mais ele conhece a pessoa de Jesus, principalmente por ser da espiritualidade do Sagrado Coração de Jesus, quanto mais conhece os sentimentos de Jesus, mais vai se identificando com o mestre, sempre se colocando como Cristo, numa dimensão de obediência ao Pai. Escuta e prática da vontade do Pai. Essa temática faz parte do correr de sua vida, desde consagrado, depois ordenado padre e Bispo. Orientado pelo Espírito Santo, claro, que orienta, santifica e o faz buscar a obediência. Seu lema “UT PASTOR PASCET”, isto é, “Qual Pastor que apascenta” (Is 40, 11), o faz lembrar que ele precisa pastorear como Jesus, desabafa que nem sempre é possível, que é sempre desafiador, mas ele tenta cumprir esse mandato com obediência e amor. Não existe discipulado sem a cruz.
Não imaginava que seu sonho de ser padre o levaria ao Episcopado, mas na vida aprendeu que o importante é ser servo, destaca que a vocação tem suas etapas. A etapa do coração: do achar bonito, da emoção e do encantamento. Depois a etapa de racionalizar tudo isso, questionando-se se as exigências e renúncias podem ser superadas, para assumir na liberdade todo o ser sacerdotal e todo o viver como sacerdote. “Me coloquei sempre como servo, como missionário, nunca escolhi um cargo”, enfatizou. Agora se lembrando da terapia do segundo noviciado no Peru, percebe como sempre foi sua missão cuidar de uma casa, seja Congregação ou Diocese. Sua
missão sempre foi cuidar da família, uma enorme família na fé em Cristo. Dom Luiz revela-se apaixonado por Nossa Senhora, modelo de abertura ao Sagrado Coração do seu filho Jesus diante do Pai e sempre foi tocado
profundamente pela misericórdia. Não é porque o Papa Francisco está falando da misericórdia não, é porque sua vocação sempre esteve ligada a afirmar que Deus é bom. Ele é consagrado ao amor dos Sagrados Corações. “Não devemos falar de ódio, sempre falemos do amor. Devemos dar o coração ao outro, ao miserável.. sair de si mesmo e pensar no outro. Não nos cabe julgar ou condenar alguém. Nos cabe sim amar, respeitar e ajudar o outro. O misericordioso tem o seu coração a serviço do outro coração, a serviço daquele que está próximo e diante dele.” Conseguir agir assim está ao alcance de todos, basta progredir com essa meta diária, conhecendo o Coração de Jesus pelo modelo que é o coração de Maria.

Ser todo de Deus e não de mim mesmo. Esse na verdade, é o sentido da vida sacerdotal, da vida consagrada, não ter reservas e ser todo de Deus. Esse é o sentido do celibato, ser todo do Pai como Jesus Cristo. Muitos não compreendem essa dimensão, mas essa reflexão vai avançando e muitos se abrem para os mistérios do amor de Deus. “A maior missão do sacerdote é ajudar o ser humano a abrir o coração para o outro”, diz o Exmo. Bispo.

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