Oração sem fronteiras

 

Mesmo com a população trancada em casa, em decorrência da onda de violência, a Igreja se une em oração pelo estado, através das redes sociais.

A sociedade capixaba nunca se imaginou passando por momentos tão difíceis como os dos últimos dias. Pessoas trancadas em casa, ruas desertas,  comércio fechado e muitas mortes e furtos em pouco tempo, devido à paralisação da Polícia Militar do Espírito Santo.

Enquanto os cidadãos, reféns do medo, não puderam participar das missas e ações paroquiais, a Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro não ficou parada. Com ajuda das redes sociais, levou consolo e orações pela internet. Grupos independentes de oração também se formaram em alguns condomínios e correntes foram criadas no aplicativo whatsapp, como a do grupo de intercessão da Paróquia.

No Facebook, padre Anderson Gomes rezou de casa, ao vivo, o Terço da Misericórdia, às 15h, e o Terço Mariano, às 18h, pedindo o retorno da paz no estado. “Comecei a fazer isso com o intuito de ser uma presença religiosa nas redes onde as pessoas estão conectadas e por onde recebiam a maior parte das informações. Muitas estavam angustiadas e deprimidas, sem saber como lidar com essa situação. Nosso papel como Igreja é cuidar delas, mesmo que de forma virtual”, explicou o pároco.

De acordo com ele, embora muitas emissoras de TV façam a transmissão da missa, elas não estão presentes no dia a dia do capixaba e, por isso, não conseguem saber o que estão vivendo. “Quando as pessoas veem um padre que está na mesma situação que elas, rezando junto com elas pelas mesmas intenções, elas se sentem mais contempladas”, acrescentou.

Além das ações do padre, algumas programações dos grupos de Oração foram adaptadas. Foi criado um Cerco de Jericó, por exemplo, para ser feito individualmente por cada paroquiano de todas as áreas da Arquidiocese. Através de orientações recebidas pelo whatsapp, eles rezaram as mesmas orações, em horários alternados, para que pudessem estar juntos espiritualmente, e todas as horas do dia fossem contempladas, fortalecendo as intenções de paz.

Missas

Mesmo diante de toda a insegurança, padre Anderson decidiu tentar manter ao máximo a normalidade das celebrações das missas. Para garantir a segurança dos fiéis, as celebrações foram realizadas a portas fechadas, porém, acolhendo aqueles que chegavam. Para possibilitar a participação dos que não se sentiram seguros para sair de casa, algumas foram transmitidas ao vivo pelo Facebook.

“Decidi manter as missas porque, mesmo em meio a essa crise, a realidade da Praia da Costa nos permitiu. Contudo, é importante atentar que o que vivemos nos últimos dias é a realidade de muitas periferias. Há locais com toque de recolher, onde os padres e a população não podem sair de casa, e os comércios são impedidos de funcionar. Isso nos modifica como seres humanos. Se lá fora está uma guerra, não pode haver uma guerra dentro da gente”, alerta o padre.

Essa realidade é sentida diariamente pelo padre Kelder Brandão, pároco da Paróquia São Pedro Apóstolo, no bairro São Pedro, em Vitória. “Para nós, mudou pouca coisa nessa crise. Estamos acostumados com tiroteios e escadarias banhadas em sangue”, afirma. Por isso, ele também manteve todas as missas, realizadas a portas abertas e com a participação de grande parte da comunidade. “A Igreja é casa de Deus e, como cristãos, não podemos nos prender nem nas nossas casas, nem nas sacristias. Temos que ser sinal da presença de Deus em meio a essa confusão generalizada”, afirmou.

E acrescentou: “neste momento, a fé tem que ser maior que nosso medo. É preciso que as pessoas rompam com o pânico que está sendo difundido e instalado e deem continuidade à sua vida. O medo é cárcere da alma. O cristão não foi forjado na fé para se intimidar diante das adversidades”.

A união das pessoas, mesmo em momento de crise, foi o que deu esperança e conforto à população, cansada de tanta violência e tomada pelo medo.

 

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